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sábado, 10 de maio de 2008

Barbara Paz




A escrita foi sempre aquela que acreditou em mim, que me escutou, me executou e me calou.Foi através dela que me descobri mulher.Legendava em meus diários a inexplicável vida cotidiana. A incompreensão da doença, da morte e do amor. Rabiscava nas paredes, nos cadernos e nas memórias partes de uma história que aquela criança Bárbara construía com o passar dos dias.Meu pai foi um grande político de uma pequena cidade gaúcha chamada Campo Bom, perto de Porto Alegre. No meu batizado um verdadeiro comício foi formado. A pequena loirinha de olhos verdes e sobrancelhas pretas chegara para iluminar a família Paz. Mas como as coisas nem sempre dão certo...Fui a quarta filha a nascer. A ultima de quatro mulheres, única a nascer em hospital, todas as outras foram de parteira.Mamãe foi uma mulher invejável. Loira de olhos azuis.Sofreu uma grave seqüela no meu parto — um rim secou — e ela ficou dezessete anos fazendo hemodiálise. Passei minha infância acompanhando-a em hospitais. O hospital era meu livro preferido, aprendi tanto que as aulas que perdia não me faziam falta. A vida não estava numa sala de aula e a morte também não estava num hospital .Seis anos após meu nascimento papai não agüentou mais o tranco e acabou falecendo. Ficamos nós, 5 mulheres a espera de um maestro. Mamãe reativou as forças, cuidou de mim e eu dela. Fomos amigas, colegas e parceiras do destino. Seguramos a barra e crescemos juntas.Encontrava minha felicidade num pequeno circo que tinha na esquina da minha rua.Adorava observar a vida através dos palhaços, aquela melancolia me fascinava. Era minha leitura diária.. Aos nove anos comecei a trabalhar. Afinal, depois que papai faleceu voltamos a ser uma família bem humilde. Uma família feliz, mas que nem sempre tinha tudo. Minha felicidade consistia em ir para o quarto vestir roupas, me maquiar e fazer meu circo em casa mesmo e deixar o pessoal louco de tanto dar risada... Era a verdadeira palhaça... Dos meus olhos lágrimas escorriam ao ver mamãe sorrir tanto... Então aos nove comecei a pintar esculturas de gesso e as vendia na praça da minha cidade. Mamãe não ficou muito contente, afinal eu era uma criança... Apesar de ter minhas bonecas, meus carrinhos, minha casinha,( brincar até dizer chega) O mundo dos adultos me fascinava mais. E eu criava sempre meus shows através das histórias que ouvia. Dizia para mim mesma que era hora de refletir, descer das árvores... Afinal, eu era uma moça e não um guri. -Vá para dentro e trate de cuidar do seu futuro.”Enfim, aos doze já estudava em escola estadual, pois nossa situação era cada vez mais difícil... As contas de casa, os medicamentos que mamãe tinha que tomar... Fui virando mulher rápido, tendo a criança nítida nos meus olhos... Nesta época as escolas estaduais entraram em greve. Então, decidi por livre e espontânea vontade fazer minha carteira de trabalho...Fiz a carteira e arrumei emprego numa fábrica de calçados.Cheguei em casa pulando de alegria. Queria muito poder mudar a nossa situação. Lembro que minhas pernas eram dois gambitos de tão magrinha e minhas tias me davam óleo de fígado de bacalhau para ver se eu desenvolvia . “Tadinha da Barbinha, tão magrinha.”, e tocavam fortificante em mim... Acabei trabalhando na fabrica dois meses, que foi o tempo exato das aulas voltarem... E assim não parei, estudava de manhã e trabalhava à tarde, agora em uma boutique onde fiquei por dois anos. Depois fui parar em loja de surfwear, agência de publicidade, onde comecei a fazer meus primeiros trabalhos como modelo.Nesse trajeto minha mãe foi ficando mais fraca e eu na batalha tentando descobrir o que fazer para ajudá-la . Curá-la ? Impossível ..., então saborear os últimos dias ao seu lado tentando fazê-la mais feliz... com uma filha tão tagarela ao seu lado... E fiz... Segui minha mãe, que era prenda de CTG (centro de tradições gaúchas).Onde tivesse música eu arrasava de tanto dançar. Sempre fui muito boa dançarina e boa de papo. Mamãe costumava dizer que eu traria o seu sorriso de volta, brilhando nos palcos da vida. Sempre soube que dentro de mim a artista existia constantemente... e que um dia eu iria para bem longe resgatar tudo... ou achar a arte de alguma forma em mim.Acho que por isso sempre tive a certeza que o palco seria meu companheiro neste espetáculo da vida.

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